domingo/ 01 de setembro/
2013
Newsletter Agosto 2013
Ana González
Ana González
A FOTOGRAFIA E A CULTURA
DA IMAGEM
Participamos da cultura da imagem e isso é natural para nós. Mas, além de
usufruir desse privilégio e nos limitando apenas à fotografia, talvez possamos
também nos indagar a respeito de como e por que isso começou. Sua história é
complexa e as razões e efeitos de sua invenção mais ainda. Após a leitura de
minhas observações não faltarão dúvidas e questionamentos, que expressadas
formarão um diálogo enriquecedor em assunto tão fascinante. Aguardo
sua comunicação.
I- FOTOGRAFIA, IMAGEM E TECNOLOGIA
A invenção da fotografia representou a busca pelo processo de reprodução de
imagens e foi uma criação lenta e coletiva. Ela se constitui por processos
químicos da ação da luz sobre certas substâncias e físicos de formação da
imagem por meio de dispositivos óticos. Para desenvolver esses procedimentos e
chegar ao que temos hoje em dia, pesquisadores de variadas áreas contribuíram
com sua curiosidade e empenho.
Sabe-se que as câmeras escuras
existem desde a Antiguidade e ligados a essa busca por produção de imagens
temos nomes como Leonardo da Vinci (por volta de 1558) e Ângelo Sala (1604). No
século XVIII, podemos citar Johann Heinrich Schulze (1724). Já no século XIX,
temos Henry Talbot e Joseph Nicéphore Niépce, que conseguiu a primeira
fotografia em 1826. Mas foi Louis Daguerre que teve a efetivação oficial de seu
trabalho pelo governo francês em 1839. A partir de 1888, George Eastman faz a
primeira câmera compacta de fotografia popularizando seu produto Kodak com a
frase “Você aperta o botão, nós fazemos o resto.”
Era uma abertura para possibilidades
incríveis. Mas também era apenas um passo nessa caminhada de surpresas sem fim,
pois no final do século XX, outra revolução atingiria o mundo da fotografia. A
digitalização da imagem aperfeiçoa então os passos do processo da fotografia,
desde a produção (aceleração nos processos e melhoria da qualidade), com
redução de custos e facilidade de armazenamento.
Além desses efeitos de
disseminação e popularização de imagens, com a presença da tecnologia, há
outros menos visíveis. Mudanças nas artes visuais e nos comportamentos sociais.
Há grande apelo que nos move em direção à reprodução das imagens. Quais
são as razões para isso?
II – IMAGEM E REPRESENTAÇÃO
A necessidade de reprodução de imagens vem desde as cavernas. Elas estão
presentes em Lascaux, Altamira e Chauvet sem que possamos ter certeza de suas
verdadeiras motivações: caráter mágico ou celebração? Elas eram raras até o
século XV, quando podiam ser acessadas pela religião (como referência para
divulgação dos preceitos religiosos) e nos palácios, com funções sociais e
políticas. Os desenhos documentais da fauna e flora brasileiras dos viajantes
Rugendas, Debret e Eckhout hoje permanecem em museus para serem observados como
obras de arte.
Mas a pintura
como produtora de imagens sofreu o impacto da invenção da fotografia no século
XIX. Enquanto o jornal Leipziger Anzeiger bradava que “a imagem de Deus
não pode ser fixada por nenhum mecanismo humano” e que era contra o “projeto
sacrílego”, os pintores Courbet, Degas e Toulouse Lautrec dela tiravam proveito
para seus trabalhos. O impressionismo poderia daí em diante fragmentar a cor e
a imagem em novas pesquisas dando liberdade para a expressão pictórica em outra
espécie de representação da realidade.
Houve uma espécie de confronto entre
pintura e fotografia. No século XIX afirmava-se que a fotografia era o lugar dos
pintores fracassados. Walter Benjamin diz que a verdadeira vítima da fotografia
não foi a pintura de paisagem, mas o retrato em miniatura. A multiplicação dos
retratistas foi apenas um entre os muitos aspectos desse fenômeno histórico,
fruto da nova tecnologia.
Muitos estudiosos confirmam que a
fotografia teve seu auge naquelas décadas do séc. XIX, quando Nadar e Atget
entre muitos outros desenvolveram seus trabalhos. Desde então, a
comercialização com seus efeitos deletérios sempre tem estado a rondar a
fotografia como um fantasma.
Hoje em dia a fotografia ganha
espaços cada vez maiores nas bienais e nas galerias de artes. É inexorável a
condição de arte que ela tem incorporado. Há infindas possibilidades no diálogo
entre ela e a pintura que abrem uma janela insuspeitada para todos os que
acompanham o desenvolvimento da arte pictórica. O que parecia problema para
alguns pintores de meados do XIX, hoje em dia é campo a ser explorado.
Na verdade, os gestos essenciais das primeiras buscas por imagem talvez somente
se reafirmem. Talvez tenha sido esse o gesto primordial que se repete desde o
homem de Altamira. A natureza humana tem necessidade de expressão e busca os
meios para atingir tal finalidade, caracterizando tal busca pelas características
próprias a cada momento histórico e social.
Não escapamos dessa
experiência que atualmente nos deixa perplexos. Atolados, afogados, presos em
meio à chamada cultura das imagens neste mundo que nos cabe. Temos que saber
lidar com esse repertório.
Walter Benjamin em 1931 disse que em um futuro seria analfabeto quem não
soubesse fotografar. Assim, ele identificou com precisão a importância futura
da fotografia embora talvez tenha errado na intensidade de analfabetismo (que é
muito mais sério do que ele imaginaria). A questão é saber ler imagens como se
lê um texto escrito. Sabemos?
De maneira muito particular
Roland Barthes em seu livro A Câmara Clara nos dá pistas para essa tarefa. Na
segunda parte em uma homenagem à memória de sua mãe, ele faz leituras de fotos
procurando abrir o que elas significam. Quase um método de alfabetização em
fotografia que, na verdade, é mais do que parece. Ela é o que pudermos ver. No
caso dele, detalhes de uma vida de afetos. Pedaços de histórias, sombras e
memórias, saudades e beleza.
As fotografias necessitam de tempo
para outro tipo de observação. Somente assim poderemos descobrir mais a partir
de paisagens, rostos e corpos em texturas, cores e perspectivas. Aí está a
oportunidade de o sujeito e um sentido se agregarem ao processo de significação
de imagens. Nós e nossa possibilidade de ler imagens construindo significados .
É a nossa intervenção de observador atuando como receptor da imagem,
transformando-a em uma experiência única e particular.
Dessa maneira, alfabetizados
para uma leitura especial, a fotografia e a cultura de imagens poderão ter um
papel diferente e relevante em nossas vidas. 

(*) Pequena História da Fotografia de Walter Benjamin em “Obras escolhidas” vol1. S.P: Brasiliense, 1985. A Câmara Clara de Roland Barthes. RJ: Nova Fronteira, 1984.
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Visite o site do artista plástico e fotógrafo Hugo Curti: “Outro dia, no
meio da rua, ouvi esta frase que me chamou a atenção: "Para ver, tenho que
olhar". /.../Percebi que, para mim, o exercício constante do olhar
fotográfico é uma busca quase frenética do "ver" com um desejo enorme
de "fazer ver" através do meu olhar... Realmente, para ver eu tenho
que olhar!"
Leia a posição de Baudelaire sobre a fotografia em http://www.faap.br/revista_faap/revista_facom/facom_17/entler.pdf
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Amigo, obrigada pela postagem do texto. Divulgar idéias, notícias, observações, dados é nosso papel, ser amigo é muito mais!!!!! bjsss Ana González
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