sábado, 14 de setembro de 2013

695- DICAS, IDEIAS & SERVIÇOS (DIS) - Lazer e Cultura - São Paulo

sábado/ 14 de setembro/ 2013
As crônicas de NEWTON de MELLO

Amigos,


Aqui vão alguns dados sobre a praticamente esquecida "Revolução de 1924", quando a cidade de São Paulo foi bombardeada pelas tropas insurretas do General Isidoro Dias Lopes e quando eu perdi um tio. Os dados foram extraídos de uma obra de Ilka Stern Cohen para a Editora da UNESP, além do depoimento pessoal da minha avó materna Pierina Bertuol Ferraretto (Bento Gonçalves - RS 1893 - São Paulo - SP 1970). A quem interessar boa leitura. A quem não se interessar, não há razão para se preocupar: Foi uma revolução esquecida mesmo.
Abraços,
Newton Mello
A REVOLUÇÃO DE 1924

Quando a cidade de São Paulo foi bombardeada
e eu perdi um tio.
Em 1924 minha mãe Haydée Ferraretto, na ocasião com 4 anos, tinha um irmão de nome Edward Ferraretto com cerca de 2 anos. Com o bombardeamento da cidade de São Paulo e com a queda de óbuses no próprio quintal da casa onde moravam na Barra Funda, meus avós, Edgard e Pierina, e os dois filhos escaparam pela “São Paulo Railway” chegando, ao final de uma penosa viagem, à cidade de Jundiaí, num trem lotadíssimo. Era Julho e fazia um frio intenso. Sem ter como abrigar tantos refugiados a prefeitura de Jundiaí facultou as instalações de galpões de café para que eles pudessem passar a noite. As condições precárias, o frio e a aglomeração terminaram por comprometer a saúde do menino Edward que viria a falecer poucos dias depois, de crupe. Nota: Depoimento verbal de Pierina Bertuol Ferraretto. (NdM)  

Cronologia:

05.07.1924: Os revolucionários liderados pelo General Isidoro Dias Lopes e pelos irmãos Tenentes Joaquim Távora e Juarez Távora rebelam-se contra o governo federal do Presidente Arthur Bernardes e tentam controlar os principais pontos da cidade de São Paulo. Eles têm sobre seu comando o IV Regimento de Infantaria, o II Grupo de Artilharia e o IV Batalhão de Caçadores. No total os rebeldes congregam cerca de 8000 soldados. Nem todas as tropas do Exército em São Paulo aderem. A maior parte da Força Pública do Estado permanece fiel ao governo federal. Iniciam-se os combates. O Governador do Estado, Carlos de Campos, o Prefeito de São Paulo, Firmiano Pinto, e o presidente da Associação Comercial de São Paulo, José Carlos de Macedo Soares, hipotecam solidariedade ao governo federal e conclamam o povo a resistir.  Com os reforços advindos de outros pontos do país as forças leais ao governo federal devem acumular cerca de 30000 soldados num curto intervalo de tempo. 

06.07.1924: Inicia-se o bombardeio dos insurretos contra os pontos dominados pelos legalistas.

09.07.1924: Carlos de Campos abandona o Palácio Campos Elíseos.

10.07.1924: Intensos bombardeios sobre a cidade. Das suas plataformas de artilharia junto às margens do Rio Tietê, na altura do Canindé e do Pari, os canhões dos insurretos disparam contra vários pontos da cidade, atingindo o Centro, a Luz, os Campos Elíseos, Santa Cecília, o Brás, a Barra Funda, Perdizes, o Bom Retiro, o Cambuci, a Vila Mariana e a Moóca.

11.07.1924: Combates nos bairros do Brás, da Moóca e do Belenzinho. Tomba morto o Tenente Joaquim Távora.

12.07.1924: A população foge para bairros periféricos ou toma os trens da São Paulo Railway para Jundiaí. As noites em São Paulo e em Jundiaí apresentam frio intenso nesses dias.

13.07.1924: Contingentes do Exército e da Marinha começam a chegar em grande número a São Paulo pela Estrada de Ferro Central do Brasil.

De 13.07.1924 a 26.07.1924: Continuação dos combates terrestres na Mooca, no Brás, no Cambuci e em Perdizes. O General Abílio de Noronha, legalista, tenta obter sem êxito a rendição dos insurretos. Os primeiros bombardeios aéreos caem sobre os revoltosos. As fábricas da Crespi (cotonifício) e da Duchen (biscoitos), na Moóca, são incendiadas pelos projéteis. Dom Duarte Leopoldo, Arcebispo de São Paulo, telefona ao Presidente Arthur Bernardes e tenta mediar, sem sucesso, uma trégua junto aos revolucionários.

27.07.1924: Sem conseguir conquistar totalmente a cidade, o General Isidoro Dias Lopes e seus comandados desistem da ofensiva, tomam as estações da Estrada de Ferro Sorocabana e partem em trens para o interior.

O Prefeito Firmino Pinto e o Governador Carlos de Campos reassumem suas funções, nos dia 27 e 28.07.1924.

Quando chegam, ao Rio Paraná, no extremo oeste do estado, os rebeldes paulistas unem-se à “Coluna Prestes”, liderada pelo Capitão Luiz Carlos Prestes, que vinha do Rio Grande do Sul, e prosseguem a luta contra o Presidente Arthur Bernardes. O General Isidoro desiste de integrar a coluna e entrega-se aos seus superiores. O Tenente Juarez Távora participaria da “Coluna Prestes” até a sua internação na Bolívia.

A cidade de São Paulo prosperava rapidamente em 1924. A população crescia vertiginosamente. Assim, pouco tempo depois, os ventígios do bombardeio já haviam desaparecido e apenas algumas poucas pessoas, talvez as mais atingidas, lembravam-se da infausta Revolução de 1924, um episódio do chamado “Movimento Tenentista” dos anos 20.

Fonte:
“Bombas sobre São Paulo” (A Revolução de 1924),
Ilka Stern Cohen,
Editora Unesp, 2007
Nota: A obra da historiadora Ilka Stern Cohen é uma das raras fontes sobre a Revolução de 1924
NdM 06.09.2013

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P.E. Newton de Mello enviou-nos duas fotos reproduzidas no livro da Historiadora ILKA STERN COHEN mostrando imóveis da Rua Caetano Pinto bombardeados em julho de 1924. Mas como não foram possíveis de reprodução, inserimos as demais imagens apenas como recurso visual, captadas do google imagens.
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