sábado, 8 de fevereiro de 2014

736 DICAS, IDEIAS & SERVIÇOS (DIS) - Lazer e Cultura - São Paulo
sexta/ 07 de janeiro 2014 
sábado/ 08 fevereiro 2014
domingo/ 09 de fevereiro 2014

NEWSLETTER  - ANA GONZÁLEZ  
 
www.agonzalez.com.br 

                 AS MOTIVAÇÕES DE
SEBASTIÃO SALGADO

Nem sempre temos acesso às motivações que conduzem as pessoas na construção de sua obra. No caso de Sebastião Salgado, podemos encontrá-las confessadas em seus depoimentos. Acompanhando alguns dados de cada uma de suas três principais obras talvez entendamos a mais impressionante de todas, a última: Gênesis, seu testemunho de amor ao planeta.     
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ALGUNS DADOS DA VIDA E DA OBRA

             Sebastião Salgado nasceu em oito de fevereiro de 1944 em uma fazenda mineira e de lá, aos cinco anos, foi para Aimorés, cidade próxima e pequena. Daí seguiu para Vitória, São Paulo e em 1969, para Paris onde reside até hoje. Estudou Economia e somente em 1973, já na Europa começou sua carreira fotográfica, depois de uma viagem à África em que utilizou a máquina Leica de sua mulher. Ligou-se às agências de fotografia Sygma, Gamma e Magnum, até que criou a Amazonas Images.  

         Três de suas obras são consideradas especiais pela crítica: Trabalhadores, uma arqueologia da era industrial (1993), Êxodos (1996) e Gênesis (2013). 

          Na primeira, ele documenta o modo de vida dos trabalhadores manuais em todo o mundo e as difíceis condições de seu trabalho: os pescadores de atum, os cortadores de cana, os operários das minas de enxofre, os garimpeiros. Segundo informações do livro, Sebastião Salgado “vai desenterrando camadas de informação visual que revelam a sobrevida de uma atividade humana oculta entre os modos de existência da civilização moderna.”  

        Na segunda, Êxodos, apresenta imagens de migrantes, refugiados e exilados, em estradas, campos de refugiados e favelas, captadas durante seis anos de andanças por quarenta países. Um deslocamento pela busca de destinos ou pela sobrevivência a custo alto e ainda que fosse com a perda da identidade. Nessas duas primeiras obras, apresenta-se uma geografia social e econômica perversa até degradante.

       Na terceira, em um trabalho que se desenvolve ao longo de oito anos, ele quis registrar a natureza intocada e populações isoladas. Foi assim que ele as encontrou: desertos enormes e intactos, terras geladas do antártico e do norte do planeta, extensões das florestas tropicais e temperadas, cadeias de montanhas.  

                                         AS MOTIVAÇÕES, FORÇAS INTERNAS 

       Essa relação descritiva diz pouco de suas três obras. Como o fotógrafo construiu esse trajeto? Ou ainda, quais os possíveis significados que tal trilogia incluiria? Visto que as possibilidades de explicação são muito particulares, procurarei não me afastar das palavras do fotógrafo.seb_salgado_jan14_4.jpg

        Em relação ao primeiro trabalho, ele diz que foi seu objetivo “conferir dignidade àqueles que se acham mais isolados, mais presos ao círculo estreito da necessidade.” O olhar do fotógrafo registra a parte da humanidade que produz sem auferir dos benefícios de seu trabalho. É o próprio autor que define seu trabalho como “fotografia militante”. Com as imagens desses trabalhadores, ele desejava fazer um “tributo à condição humana”.  Tal tema indicaria sua sensibilidade “à forma como os seres humanos são afetados por suas condições socioeconômicas, muitas vezes devastadoras”.

         Em Êxodos ele nos traz a “humanidade em trânsito”, a caminho de outro destino ou expulsa de seu espaço por situações diversas, mas sempre com dor e violência. Cansou de ver corpos agonizando e cadáveres empilhados em Ruanda na África. 

       Tal realidade entrevista por uma câmera que não esconde nada provoca nele apreensão com relação ao futuro. Quando acabou esse trabalho estava doente e deprimido: “Eu tinha vivido um universo de degradação tão profundo que meu corpo não se dava mais o direito de viver”. Pensa até em abandonar sua carreira de fotógrafo. 

        Nessa mesma época, ele ganha a tarefa de cuidar de uma terra de família, não por acaso aquela em que tinha vivido os primeiros anos de infância. Como ele, o solo estava exaurido e desgastado. Inicia um projeto de reflorestamento e preservação ambiental que rapidamente restaura a Mata Atlântica. Tal projeto restitui vida a terra e a seu dono (1). E ele re-descobre a fotografia. Daí, ele chegou à experiência com a natureza e com animais: “Com o projeto Gênesis eu me realizei. Eu nunca tinha fotografado paisagens, nem outros animais. Foi fantástico”, ele confessa.

        Entre a primeira obra e a última, há profundas diferenças. A visão do fotógrafo que flagra em Trabalhadores a produção de populações de trabalhadores foi transformada no olhar que busca “redescobrir as montanhas, desertos e oceanos, animais e povos que escaparam, até agora,  à marcha da sociedade moderna”. 

        Nas três, a paixão é a mesma, sempre a expressão de um talento especialmente vocacionado. Mas, o objeto observado pela câmera mudou. Ou melhor, a intenção do observador mudou. Nesse intervalo, houve a eliminação do homem em sociedade.  Por que procurar “a terra e a vida de um planeta ainda intocado”?  

       Segundo ele, Êxodos foi uma experiência que mexeu com suas convicções políticas, tendo aprendido sobre a natureza humana e o mundo. Ainda diz: "Inúmeras vezes fui lembrado do fato de que os homens são iguais em toda parte."

       Não podemos saber que convicções se perderam, que outras foram somente balançadas e quais permaneceram. Mas, podemos dizer que, atrás do fotógrafo, continua havendo a perspectiva de um economista que observa sob a perspectiva da escassez e que entende como se deve realizar a adequada administração de recursos, sejam humanos ou materiais. 

       Nas três obras, seu objeto inclui o fenômeno de produção, da acumulação e distribuição de bens, da organização dos elementos de um todo e da plenitude de suas funções (2). Há a manutenção dessa via que mira o equilíbrio ou o desequilíbrio de um sistema. Ele diz a propósito de Gênesis, “Eu queria examinar como a humanidade e a natureza têm coexistido ao longo dos tempos naquilo que agora chamamos de equilíbrio ecológico.” 

        Depois da dor e da violência, ele deseja a paz e a encontra em uma humanidade que perdura junto à natureza, distante das distribuições equivocadas, sem escassez, sem privação, sem o “braço comprido – e frequentemente destrutivo – do ser humano moderno”.  

         Ele se distancia de sua anterior perspectiva que marcava o que falta. E se nesse abandono há decepção implícita, há também o aceno de uma esperança. Ele nos traz agora as imagens de uma natureza e de uma humanidade vivas e puras. É em nome dessa pureza que Sebastião Salgado se desprende das questões sociais e funda uma ótica mais ampla. 

       A partir de outros valores, ele nos fala de abundância, da potência interna da natureza que é também a da humanidade.  Convida-nos para a confiança nos recursos naturais e para sua preservação.  Dá um salto, faz um voo de grande amplitude, planta novos ideais, lança novas aspirações.

      E se ainda assim nos causar estranhamento o sentido impessoal da nova abordagem é porque não chegamos aonde ele está, nessa visão ainda cúmplice do coletivo e do social, de forma mais abstrata, porque é também mais sutil.

       Ele nos dá a solução, nos mostra o caminho para bem conduzir a administração da vida: “Eu quis captar um mundo que está desaparecendo, uma parte da humanidade que está prestes acabar, mas que, no entanto, ainda vive de muitas maneiras, em harmonia com a natureza.”  seb_salgado_jan14_6.jpg

       Esse cenário descortina uma dimensão quase do sagrado e nos convida à reflexão, quase uma oração, no encontro com a natureza. Um chamado bíblico, gênesis.

       Ao longo dessa nova trilha, Sebastião Salgado, esse habitante do planeta, transitando por todo o espaço, procura dar dignidade à humanidade. 

(1)Visite o site do Instituto Terra que apresenta o trabalho de restauração: http://www.institutoterra.org/pt_br/index.php 


(2)Conceitos de Economia pesquisados no Novo Dicionário da Língua Portuguesa (Aurélio Buarque de Holanda).   
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‘muito calor’,
é a previsão de hoje em sampa;
os deuses da natureza estão
nos fritando; e nem é em ‘banho-maria’!
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Candidata à prefeitura de Paris quer transformar estações de metrô desativadas
em piscinas públicas
Imagem 3/5: 
As estações de metrô desativadas que seriam utilizadas para esse própósito são Haxo, Porte des Lilas, Campo de Marte, Porta Molitor, Arsenal, Croix Rouge e St. Martin. A candidata afirma que fará uma colaboração com o Corpo de Bombeiros para atender aos padrões de segurança e normas de segurança MAIS Reprodução/nkmparis.fr
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