sábado, 25 de maio de 2013

583- DICAS, IDEIAS & SERVIÇOS {DIS} - Lazer e Cultura - são paulo


sábado/ 25 de maio/ 2013

-------- Mensagem original --------
Assunto:
IMPERATRIZ LEOPOLDINA, DUAS VERSÕES DE UMA BIOGRAFIA
Data:
Thu, 23 May 2013 15:02:22 -0300 (BRT)
De:
Ana González <contato@agonzalez.com.br>
Responder a:
contato@agonzalez.com.br
Para:
sicservideias <sic@servideias.com.br>

Newsletter    Maio 2013           Ana González          www.agonzalez.com.br


IMPERATRIZ LEOPOLDINA,
DUAS VERSÕES DE UMA BIOGRAFIA
Em 2012 aconteceu a exumação dos corpos de d. Pedro e de suas duas esposas, com consequente desmistificação de algumas histórias sobre essas personagens. Há pouco tempo, eu soube que a Imperatriz Leopoldina tinha interesse por ciências. Como tal assunto ainda hoje não é comum entre as mulheres, a curiosidade a respeito dessa personagem cresceu. Quem foi essa pessoa?
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Ela foi filha de Francisco I, da família Habsburg da Áustria, educada desde o nascimento para ser princesa. Contarei duas versões de sua vida: a social (ou exterior) e a pessoal (íntima e menos conhecida). A simpatia que ela despertou me liberou para essa artimanha ou método de narrativa.
A primeira intenção deste texto era levantar algumas informações do passado, resgatando um pedacinho de nossa memória histórica. Queria saber se ela tinha sido mais do que uma esposa preterida por seu marido. Aos poucos, as informações coletadas principalmente depois da leitura de suas cartas (*) ganharam espaço. São duas histórias e talvez não seja adequado avaliar qual é a mais correta. São duas possibilidades de leitura de uma vida. E a diferença que elas apresentam pode (ou não) nos propor reflexões. 
LEOPOLDINA, PRIMEIRA IMPERATRIZ DO BRASIL
Ela casou-se com d. Pedro por procuração em 1816. Era um acerto entre 
as casas nobres de Europa para fazer pontes políticas e também um intercâmbio econômico e científico entre Áustria e América do Sul.  Em 1817 veio ao Brasil para se encontrar com seu marido, finalizando o que já se iniciara no ano anterior. 
Participou das questões de seu novo país mais do que se pode adivinhar pelos livros didáticos.  Juntamente de José Bonifácio, desejou melhorias para a população e saneamento. Ainda junto dele, trabalhou pela independência,  pela paz e integridade do Brasil.
Na condição de regente por poucas semanas (enquanto D.Pedro viajava para resolver questões),  assinou a declaração da independência do Brasil. Era um momento de crise e em carta a seu marido, avisando das ocorrências turbulentas no Brasil e em Portugal, ela diz: “ O Brasil parece um vulcão. Em suas mãos tornar-se-á um grande país. O Brasil exige que você seja seu monarca /.../ a maçã está madura, colha-a antes de apodrecer.” Foi grande seu estímulo para a independência brasileira. Falece em 1826, antes de completar trinta anos.
O DEVER ACIMA DE TUDO
Comecemos de novo, em uma segunda narrativa possível. Nascida em casa nobre da Áustria, ela se casa e vem reinar no Brasil, tendo tido o cuidado de estudar a língua (
português), a geografia, a história e a economia do país em que iria viver. Com José Bonifácio, com quem tinha afinidades no gosto pela botânica e mineralogia, desenvolveu convivência de amizade.  
Apresentava inteligência e determinação e angariou muita simpatia a sua volta.  Mas, reclamava de isolamento, da falta de livros e de tristeza porque não pode realizar seu desejo de ir a Portugal. Seu príncipe aos poucos virou sapo. Chamou-lhe inicialmente "querido Pedro”. Depois, de “monstro sedutor”. Havia discrepância óbvia entre sua educação e espírito refinado e os modos do príncipe consorte.
Não podia fugir de uma alternância de humor, que aparece nas cartas em vários momentos. Apesar de sua atuação para a independência, após 1822, é isolada na corte e sofre pressão emocional. Seu parceiro e amigo José Bonifácio foi exilado em 1824. Além de muita humilhação perante todos no corte infligida pela presença de uma dama da nobreza próxima de seu marido, em dezembro de 1826, ela falece doente e separada de tudo e de todos.
A segunda versão de sua vida marca aspectos de sua experiência pessoal. Na verdade, foram apenas nove anos desde que ela aportou em terras brasileiras até a sua morte. 
Quando ela chegou era cheia de curiosidade pela terra nova e também pela possibilidade de viver uma história de amor. Idealista, não pôde desenvolver um papel político (ou humanista)  mais amplo, em que pudesse agir de acordo com sua formação e temperamento. E assim ela foi perdendo o elo com a vida. Perdeu o estímulo para a busca  de conhecimento, perdeu o marido que não mais a enxergava, perdeu saúde com muitas gravidezes e períodos de melancolia, possivelmente a única expressão possível de insatisfação em seu contexto. Reclamava de solidão nas cartas e de saudades de seu pai com quem tinha bom contato. Quando José Bonifácio foi exilado, perdeu o amigo. Aos poucos a jovem ingênua transforma-se em uma mulher sem ilusões, que escreve com ironia: "Nós, pobres princesas, somos tais quais dados que se jogam e cuja sorte ou azar depende do resultado. "   
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Apesar de tudo, ela parece ter aceitado desde cedo que sua vida estaria á serviço do nome que carregava. Fez dessa demanda hereditária o significado de sua vida. Sua obediência tornou-a refém da situação a que estava submetida. Seus desejos pessoais foram substituídos pelo respeito aos deveres. 

Morreu antes de completar trinta anos. Foi uma pessoa nobre de alma, capaz de sacrifícios ou fraca de vontade? Tal avaliação é impossível.  Mas, em sua vida, não coube o happy end das histórias que começam com o “Era uma vez uma princesa...”.
Não é coincidência que ela tenha os valores saturninos de disciplina fortemente presentes em sua vida. Assim como tinha também o brilho de uma mente curiosa e intensa, e uma ânsia de conhecimento, tudo isso apontado pelos mitos e símbolos astrológicos. Mas, isso já é outra história que fica para uma próxima vez.
Ela foi a primeira imperatriz do Brasil e, por razões nem sempre levadas em conta, é merecedora de ter um lugar mais justo no relato de nossa história.  
(*) Há algumas biografias da Imperatriz. Mas suas cartas são a expressão mais verdadeira de sua voz: Cartaz de uma imperatriz, de KANN, Betina e SOUZA LIMA, Patrícia, seleção. SP: Editora Estação Liberdade, 2006 (volume com farta coleção de cartas e estudos interessantes).
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"Com um maço de flores no colo, minha imaginação andou por aí." 
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