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segunda/ 04 de novembro de 2013
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NEWSLETTER OUTUBRO 2013
" Só para ela [a música] não vale o conceito aristotélico de
mimesis. É o supremo triunfo do espírito criador humano.” (*)
Comemoramos em 2013, duzentos anos do nascimento de Giuseppe Verdi e
também do alemão Richard Wagner. Ambos construíram obras geniais em um contexto
especial da história da música, por causa de aspectos sociais e políticos
daquela época. Hoje não cabe mais a polêmica entre seus nomes, existente no tempo
em que viveram. Para este breve estudo, escolhi o italiano Verdi. Muitas de
suas árias são conhecidas de todos nós. Por que motivo?
ÓPERA EM DOSE DUPLA
Ao
longo do século XIX houve a formação de um público inexistente no século
anterior. Daí podemos entender que tenha havido o aparecimento de empresários,
de grupos de músicos na organização de concertos e outros eventos. Ao lado
desse movimento social e cultural, temos também o despertar das nacionalidades
com a consequente ênfase em suas histórias e tradições. Essa mudança política
promove uma competitividade saudável entre as várias expressões artísticas.
Além disso, o público leigo começou a observar os artistas como pessoas excepcionalmente
dotadas, o que gerou o culto do gênio.
É
nesse contexto privilegiado do romantismo que os dois compositores de ópera
desenvolvem sua obra. Cada um à sua maneira.
Entre outros aspectos, Verdi desenvolveu as convenções do gênero e
respeitou a estrutura da ópera compondo enredos melodramáticos e épicos, com
personagens bíblicas, dos livros de história e de obras literárias
(Shakespeare, Victor Hugo e Alexandre Dumas Filho). Wagner revolucionou o
gênero com personagens extraídas da mitologia medieval, nórdica e germânica,
construindo um universo próprio, uma utopia estética com o conceito de obra
como expressão da arte total. Diz-se que Verdi finaliza o caminho da ópera
tradicional, enquanto Wagner abre espaço para uma nova maneira de se fazer
música.
Além da riqueza das obras de ambos, em estudos biográficos não
censurados, encontramos um Verdi com temperamento exigente, áspero nas
discussões, intolerante em relação à realização de seus objetivos artísticos e
calado embora fosse também generoso e de retidão de caráter. Wagner carregou
durante sua vida um anti-wagnerianismo, porque foi acusado de anti-semitismo,
de ser egoísta e outras qualidades não menos depreciativas. Mas teve uma
capacidade de resistir como um gigante, arrebanhando um público a sua volta e
garantindo assim seu caminho de sucesso.

Na observação da vida de ambos, há o mistério da obra que se constrói,
de um impulso que pede expressão e que encontra respaldo no mundo exterior.
Escolhemos o compositor italiano pela sonoridade de sua obra, tida como
popular e ganhando por essa qualidade, muitas vezes, uma avaliação menor pela
crítica mesmo em seu tempo. Pois é este apelo popular que talvez mereça o
despertar de uma curiosidade. A despeito da crítica especializada.
A NECESSIDADE DA ARTE:
EXPRESSÃO E RECEPÇÃO
Ele nasceu em Le Roncole a10 de outubro de 1813, em uma Itália dividida.
Filho de família de campesinos pobres encontrou ajuda desde a infância que lhe
possibilitou algum estudo e acesso à música. Casou-se com a filha de um
benfeitor, de quem teve dois filhos. Perde filhos e esposa no espaço de três anos
(1838-1840). Nessa época, pensou até em deixar a música. Porém, em 1842 volta
com Nabucco que tem sucesso nacional. Dessa obra, o coro Va Pensiero, que conta
o lamento do povo judeu cativo na Babilônia, passa a representar quase como um
hino os desejos nacionalistas do povo italiano na busca da liberdade e da
unificação de sua pátria.
Entre 1851 e 1853 escreve La
Traviata, Rigoletto e Il Trovatore. As
obras seguintes trazem renovação e maestria musical. Em 1871, a grande
Aída e Otello em 1887. Aos 80 anos, escreve sua última obra Falstaff de caráter
cômico. Trata-se de uma adaptação de Arrigo Boito a partir de Shakespeare em
que o gênio parece ter conquistado enfim a sabedoria para falar da vida humana
com graça, além de mostrar o amadurecimento de todos os seus recursos musicais.
Fecho de ouro na obra que tinha convicções morais do romantismo político e
humanitário do Risorgimento e a simpatia pelas vítimas e humilhados pela
vida.
Ao longo de sua vida, compra terras e constrói em Sant´Ágata, uma casa
nos moldes daquelas que havia nos campos de sua infância. Aí retira-se para uma
vida calma e os amigos puderam vê-lo a partir dos seus sessenta anos
trabalhando no arado, cuidando do gado e até recusando-se a escrever. Nessa
casa talvez tenha realizado o desejo de ser campesino.
Em janeiro de 1901, em uma última homenagem o cortejo que acompanha seu
enterro canta a música com que o compositor conquistara o povo italiano: o coro
dos judeus da ópera Nabucco.
O estudo de biografias nos traz muitas vezes descobertas inusitadas. No
caso de Verdi, parece que não há espaço entre a imagem da obra e seus dados
pessoais. Ele fez uma obra dentro do espírito romântico de seu tempo. Inspira,
comove e eleva o nosso espírito. Também ofereceu um canto especial para
seu povo. Alimentou seu amor à terra e desenvolveu a vocação necessária a sua
alma. Algo que só pode ocorrer espontaneamente, sem planejamento. Uma relação
entre necessidade de expressão e recepção. É uma obra musical que se investiu
de significado maior. Um mistério e triunfo do espírito criador humano.
Esse homem simples e vocacionado para a música, segundo Kurt Pahlen,
sempre tivera um mote: “Na arte e no amor, devemos ser sempre, acima de tudo
sinceros.”.
Talvez por isso, suas melodias entrem tão sinceramente dentro de nossos
ouvidos e se acomodem tão definitivamente em nosso coração.
(*)MASSIN, Jean e Brigitte. História
da Música Ocidental. RJ: Editora Nova Fronteira, 1997.
PS1: Sites comemorativos do
bicentenário (em italiano)
PS2: As árias de Verdi estão
no youtube. Não perca o prelúdio de La Traviata: http://www.youtube.com/watch?v=XZqoFQd_Cec Visite também: o coro Va
pensiero (Nabucco), a Marcha triunfal (Aída) e as árias La
Donna è mobile (Rigoletto) e Libiamo ne´ lieti calici (La Traviata).
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